O refrão célebre de Zeca Afonso na música “Os Vampiros” é considerado um clamor de defesa pelos direitos dos mais desfavorecidos no tempo do Estado Novo. Ora, hoje em dia, parece que esse mesmo refrão é também aplicável aos poucos deste país que procuram ser geradores de riqueza.

Será que é uma ofensa alguém criar riqueza? É evidente que sendo o ser humano um animal social, a preocupação com o bem-estar da sociedade é um imperativo de todos. Por isso mesmo existem impostos diferenciados que fazem com que quem ganhe mais, pague mais. Desta forma o Estado fica responsável pela justa distribuição dos ganhos dos contribuintes. Mas fazer a distribuição da riqueza através de impostos é muito diferente de torná-los num veículo dissuasor no propósito de ganhar dinheiro.

Alguns partidos parecem ter dificuldade em lidar com quem tem dinheiro, ou pelo menos passam essa mensagem porque devem considerar ser um discurso mais popular. Esta postura é uma inversão do que deveriam ser os valores de uma sociedade justa e evoluída. Porque não nos orgulhamos de quem enriquece? Ouvir agentes políticos dizerem que “é preciso ir buscar o dinheiro a quem o tem”, como se ter dinheiro fosse um mal em si, é criar uma divisão na sociedade. Promove-se a inveja e a desconfiança do mérito de quem ganha dinheiro. Esta postura voltou a ser visível na polémica “taxa Robles”, que pretende combater a especulação imobiliária, carregando mais impostos sobre as mais-valias.

Será que o cidadão comum tem consciência do nível de tributação neste tipo de mais-valias (excluindo as casas para habitação própria)? Uma pessoa que ganhe dinheiro a vender um imóvel nestas condições, entrega uma grande parte desse valor ao Estado, para que este o distribua entre todos de forma justa. Em vez de se ter uma atitude vampírica com quem gera riqueza para a sociedade, os políticos deveriam garantir que fazem o seu trabalho no controlo de uma gestão sã dos dinheiros públicos, que são meus e seus.